Como um grande desafio. Não entendemos um mandato legislativo como um projeto individual, mas sim um projeto coletivo, de grande responsabilidade, que é levar a voz da educação para esse fórum de debate tão importante para a sociedade.
2- Diante da sua grande experiência de militância na educação, como o senhor avalia o ensino público em nosso estado?
A educação não é uma questão apenas dos trabalhadores, mas de toda a sociedade, pois a educação de qualidade reflete positivamente em todas as áreas: economia, saúde, meio ambiente, segurança pública, enfim, na qualidade de vida das pessoas. Não é isso que vemos no nosso estado. Aqui a educação vive há décadas em situação de precariedade, de descaso total. No Maranhão temos professores que ganham um salário mínimo. Não recebem nem mesmo o piso garantido por lei e tem alunos que deixam de frequentar aulas porque a escola ofertada é galpão de meninos. Temos escolas, onde os professores tiram de seus bolsos coleta para ajudar na merenda escolar e alunos que deixam de frequentar a escola porque não tem transporte escolar ou a merenda só chega para metade do mês. Por tudo isso, os índices educacionais no estado são os piores do Brasil. Essa realidade precisa mudar.
3- Como fruto de uma grande luta, os trabalhadores conquistaram o Estatuto do Educador. Mas não é só isso, o que falta, professor?
O Estado precisa cumprir integralmente o acordo que resultou na aprovação do Estatuto e os direitos assegurados na lei. As gratificações precisam ser imediatamente regulamentadas – difícil acesso, risco e educação especial. A gratificação de 30% que conquistamos para os funcionários, que passam por profissionalização no curso Profuncionário, precisa ser estendida a todos. Os funcionários do Colégio Cintra, por exemplo, ficaram de fora. O Estado precisa pagar.
4- Também houve uma grande conquista que é a data-base e a eleição direta para diretor de escola, como o senhor avalia isso?
A Lei do Piso garante o reajuste para os professores dos níveis iniciais, mas o SINPROESEMMA precisava garantir o reajuste para todos, de forma linear. Foi o que fizemos. Hoje, a data-base é 1º de janeiro e o reajuste do piso vai para todos os professores – o Estado é obrigado a cumprir.
A conquista da educação de qualidade passa também pela democracia no ambiente escolar. Precisamos de gestores que estejam afinados com a meta da qualidade e que saiba ouvir todos os personagens da comunidade escolar: professores, funcionários, alunos, pais e mães. Por isso, quem deve escolher o gestor é a comunidade. Mas o Estado precisa regulamentar a lei, definindo a formação para os gestores, uma tarefa que ficou sob a responsabilidade do governo. Somente educadores com a formação específica na área poderão concorrer ao cargo. Mas é, sem dúvida, um grande avanço.
5- O SINPROESEMMA realizou assembleias regionais para construir a plataforma da educação. Uma carta-proposta que será apresentada aos pré-candidatos ao governo do Maranhão. Quais são os principais pontos dessa plataforma?
São diversos itens, que no nosso entendimento, são necessários para chegarmos a nossa meta de qualidade. O Plano Estadual de Educação tem que ser implementado. A educação precisa de um norte, ter investimentos e o Estado precisa cumprir metas.
É preciso um novo pacto pela educação, que tire o Maranhão dos índices do atraso, de ficar sempre em último lugar em tudo: em pobreza, em analfabetismo, em evasão escolar, em piores escolas, pior nota do Enem… Além disso, tem as questões do Estatuto, que precisa ser cumprido. O concurso público deve ser feito imediatamente para acabar com déficit de professores na rede estadual e com a precariedade nas condições de trabalho nas escolas.
6- O senhor percorreu o estado no Movimento Diálogos pelo Maranhão, com Flávio Dino, e fez muitas visitas a diversas regiões, nos últimos dois anos. Que diagnóstico o senhor faz a educação em nosso estado?
Total ausência do poder público. A realidade dos municípios é difícil. Encontramos famílias destroçadas vendo seus filhos indo buscar outros caminhos – como o trabalho pesado em outros estados, por exemplo – por falta de oportunidades. Encontramos muitos municípios sem escolas de ensino médio, como em Boa Vista do Gurupi, e outros, com apenas uma escola e vários anexos, como em Turiaçu, onde os alunos disputam espaço em salas de aula superlotadas. Outros casos, como em Santa Luzia do Paruá, onde os alunos estudam em espaços cedidos pelo município. O Estado precisa construir escolas.
7- Existe recurso federal para transporte escolar e previsão de orçamento do Estado para a área. Por que o transporte é precário e em muitas áreas nem mesmo existe?
Porque não há comprometimento do poder público com as condições dignas de vida dos alunos. Negar o transporte ou transportar alunos em pau de arara é uma irresponsabilidade, como aconteceu no município de Bacuri, onde oito adolescentes morreram. Os responsáveis devem ser punidos com severidade. É preciso respeito com a educação pública. Deixar alunos caminharem em areia quente vários quilômetros a pé é uma crueldade, como acontece nas cidades da região de areias, no Norte do Maranhão. Isso precisa mudar.
8- O senhor se licencia do Sinproesemma, a partir do dia cinco de junho. Faça uma avaliação das suas duas gestões frente ao maior sindicato de trabalhadores do Maranhão e diga quais são as suas perspectivas?
Com essa licença, inicio uma nova etapa de luta, com o sentimento de que contribui junto com a direção do sindicato e a nossa base pela educação de qualidade, inclusiva e referenciada. Que cumpri meu dever como representante dos educadores, de unir a categoria, mesmo nas adversidades. De mobilizar para as batalhas, de dialogar e de negociar no campo institucional a pauta da educação.
Ainda não conseguimos tudo que precisamos para atingir nosso objetivo, mas avançamos bastante, cobramos, nos deparamos com inúmeros obstáculos, conseguimos vencer a maioria, mas a luta deve continuar, firme, com propósito e sempre com a possibilidade do diálogo, porque é assim que se constrói a democracia de verdade e se conquista direitos; pressionando, quando for preciso, e buscando sempre o diálogo.
Minha responsabilidade com a educação continua, só fui designado a buscar outro espaço para dar continuidade a essa luta, a ser o porta-voz de uma categoria e de uma comunidade que grita por justiça social, igualdade e condições dignas de vida. Deixo aqui um grande abraço a todos os trabalhadores da educação e dizer que estamos juntos nesse projeto pela educação pública de qualidade, sempre!
Desejo boa sorte e muita paz nessa caminhada, que não é só minha, mas de todos nós educadores e educadoras do Maranhão.
Fonte: Assessoria da Presidência do Sinproesemma
Kalyne Cunha
0 comentários:
Postar um comentário